
. AVISO: Se você é fanaticamente cego pelo romance escrito por Stephenie Mayer, esse texto é Altamente Recomendável. Esse texto contém críticas fortes ao filme e aos seus fãs, mas o respeito pelo gosto é plenamente existente. A crítica é o ato de gostar. Gostar não tem problema nenhum. Tem gente que gosta de Pagode, não?
. Pois bem, essa semana todos os humanos normais foram pegos pelo "espetacular" lançamento do mais novo filme da série de livros sobre Vampiros que virou moda entre a juventude local, principalmente entre as meninas. Lua Nova estréia hoje nos cinemas brasileiros. Nessa sexta-feira dia 20. Uma pena não ter estreiado semana passada. Seria o melhor dia possível. A sexta-feira 13. Ou vampiros românticos não gostam de sexta-feira 13?
. O novo fenômeno cultural foi bastante parecido com os outros. Veio do nada, causou um choque, se instalou na sociedade e virou mania. Gostar de vampiros, comprar uma dentadura de vampiro e sujar a parte de baixo dos lábios com ketchup agora virou moda. E o sucesso é arrasador. Milhares de livros vendidos e salas de cinema cheias. Agora eu pergunto, por que estou falando disso?
. O que me fez despertar a vontade de escrever foi presenciar um fato alarmante ao ter uma conversa com uma boa pessoa. Ontem, ela falava sobre a estréia do novo filme da série. E falava com uma empolgação incrível. E ela deve ter mais de 25 anos. Até aí, "tudo bem". Tive misericórdia por sua alma, mas respeito o gosto das pessoas, o problema foi quando ela falou:
- Eu já comprei os ingressos pra mim e para minha filha. Acho que ela não conseguirá nem dormir direito de tanta ansiedade.
. Admito. Isso me espantou demais. Como algo produzido culturalmente pode deixar uma pobre pessoa sem dormir pela ansiedade produzida no dia que antecede sua estréia? Esse objeto produzido tem que ser algo estupendo criado por um gênio, no mínimo. E não é isso que acontece. Não, no caso de Lua Nova, ou se preferir Crepúsculo 2 - Vampiros em polvorosa.
. É evidente que histórias de seres mágicos e com poderes atrai a curiosidade do público. É fabuloso ir além de nosso pobre mundo de humanos sem poderes especiais. Não damos valor a termos braços, pernas e massa encefálica. Teríamos que pular muito alto, voar, ter super força e coisas do tipo. Pois isso é maravilhoso. Pois seríamos diferente. Seríamos Especiais. E ser especial é tudo que queremos. E todas as febres culturais se baseam nesse ingrediente especial. A arte da magia. Do mundo onde humanos não convivem apenas com humanos. E foi assim com Harry Potter. E foi assim com Senhor dos Anéis. Bruxos, elfos, orcs, magos e agora vampiros. O problema é: Onde isso tudo vai parar?
. Gnomos drogados na Suécia, talvez?
. A diferença gritante entre Crepúsculo e seus antecessores é notoriamente sua qualidade. Senhor dos Anéis é uma trilogia genial. Uma epopéia fantástica que produz uma própria mitologia que inventou o mundo dos RPGs e abalou todas as estruturas de histórias de fantasia. Por ser único. Por ser inovador. Já Harry Potter foi uma febre criada entre os jovens que em sua geração cresceram lendo uma história que ia sendo desenvolvida com o tempo. A relação idade-história é fato marcante e preponderante para o sucesso. A escrita dos livros foram evoluindo a cada um que era lançado. E seus leitores também, o que tornava sua história cada vez melhor. Cada vez mais adulta e sombria. Sem contar que seu roteiro em si é extremamente criativo, com personagens muito bem construídos. E tornou-se o que é. Agora, e o Crepúsculo?
. Crepúsculo é um mero enlatado americano que traz a soma de tudo que é pop, jogando em um liquidificador um roteiro inegavelmente romântico (o famoso bonitinho), um cenário jovem para as pessoas se identificarem e quererem estar no lugar e o mais importante... seres especiais fantasiosos que não existem, os Vampiros. Porém, não me espantaria se uma taxa das pessoas que gostam de Crepúsculo acreditem ferrenhamente na existência de vampiros como os do filme. Ah, e não esqueça do velho maniqueísmo de sempre entre o bem e o mau, fator essêncial nessa equação tão fácil de se visualizar.
. Admito que peguei o livro pra ler e também assisti o primeiro filme. Seria muito vazio e arrogante de minha parte fazer uma grande crítica sem ter fundamentos pra isso. Quem faz isso não tem a mínima noção do que é criticar. Primeiramente, o livro é um lixo. Roteiro bom. Escrita ruim. Narração fraca e nada chamativa, pelo menos pra mim. Mas é claro que o roteiro é interessante e faz as pessoas acompanharem, mas eu não consegui me prender. Não foi algo que me fez bem. Pra ler porcária, eu leio umas crônicas bastardas de política. E o filme? Bem. Eu só cito aquela cena onde o vampiro parece um carnavalesco-man todo purpurinado ao ter sua pele tocada por raios solares. Muito tosco. Porém, para muitos é bonitinho. Ok. Eu dispenso.
. O que me pergunto, é por que essa tendência em nossa juventude? Por que não se prender as fantasias delirantes de Dom Quixote e sua grande epopéia pelo amor? Por que não pegar a linda e magnânima história de O Pequeno Príncipe e se jogar em toda aquela imensidão fantasiosa envolta de pureza e amor? E isso é só pra citar os clássicos. Poderia falar de Dickens, Shakespeare, Saramago, entre outros. Eles são tão atuais. Escrevem tão bem. E de forma tão expressiva. Por quê? Por quê?
. Será que é preciso realmente pra todo sucesso novo ser algo cheio de clichês, sem nenhuma criatividade, seguindo a mesma fórmula de sempre para se criar uma febre juvenil? Eu não sei mais. Sem mais, queridos. Por hoje é só. Estou cansado. Ficam-se os questionamento.
. Por sinal, pra quem não sabe o que é, um Crepúsculo a claridade frouxa que precede a escuridão da noite ou a claridão do dia. Poeticamente, pode ser considerado como um período que precede o fim de algo, um período de declínio. E o único declínio que vejo é o de nossa juventude. Logo, por isso estamos presenciando esse Crepúsculo.
Música da Semana – Hotel California (The Eagles)
Filme da Semana – “Minhas adoráveis ex-namoradas” (Gênero: Comédia)
Frase da Semana – “É preciso cultura pra cuspir na estrutura” (Raul Seixas)
Imagem – Foto de um Crepúsculo.